10/10/2011

Do Polimento Dos Dias


AIguém disse que "só mãos verdadeiras escrevem poemas verdadeiros". Eu que nem sempre serei autêntico, embora de mãos limpas, entrei neste epi­sódio verdadeiro: simples mas significativo. Regressando da escola, de mais ou­tra reunião, vinha acompanhado de uma colega. E o assunto, claro está, proble­mas com os alunos, ia prolongando na viagem. Dizia ela:
-Mas também é verdade que nem sempre estamos atentos aos sinais deles.
Concordei inteiramente. E, fugindo-me a boca para a força do hábito, acrescentei:
Ainda um dia destes quando fazia a minha retrospecção noturna, reparei que, nesse dia eu tinha feito "força contra força", e a aula não rendeu grande coisa.
O colega fez o quê, retrospecção...?
Expliquei-lhe, acrescentando, que a fazia para trás, isto é, dos acontecimentos do fim do dia para o começo. A colega achou graça e ao mesmo tempo encheu-se de curiosidade em saber o motivo deste pormenor (importante) de rever e julgar os acontecimentos pela ordem inversa.
Aqui surgiu o momento difícil do episódio para um dos interlocutores, neste caso a minha pessoa. Eu sabia que a colega não estava familiarizada com a filosofia Rosacruz e provavelmente nem com outra. Passaram dez longos segun­dos. Respondi-lhe:
-Olhe, eu faço assim porque os acontecimentos mais recentes, os da hora de jantar e de fim de tarde, enfim, recordo-os melhor. A memória está mais fresca. Contudo, já me habituei, e lembro-os todos até aos do levantar da cama.
A professora que me acompanhava, por coincidência ou não, lecionava História. Completei, não sei como, a minha instintiva resposta:
Então não existe o método retrospectivo do estudo da História?! Tive um professor que era adepto deste método.Ficou-me este jeito. E também já li um livro.
Sim. -responde ela. -Embora os acontecimentos da atualidade e do passado recente sejam mais difíceis de analisar objetivamente.
Concordei com ela, acrescentando que, talvez por isso, é que devemos exercitar a visão objetiva, imparcial, e de juízo de valor no caso da retrospecção.
Moral desta pequena história: não tem. Talvez alguma pedagogia, instinti­va, ou levemente inspirada, de tentar dar uma explicação de um modo indireto sobre o alcance inimaginável deste exercício, como incansavelmente aconselha Max Heindel. A pedagogia não é uma moral, mas serve como uma espécie de salvação em casos de emergência. E se tivéssemos que tirar alguma lição, poderia ser esta: há uma maneira de aprender que, não sendo a mais desejável (por ser menos consciente), pode todavia dar alguns frutos. E talvez assim seja se a isto jun­tarmos o mote do poema introdutório do ConceitoRosacruz do Cosmos: amor e simpatia.
Quando me despedi da colega, à porta de casa, perguntou-me:
- Em que livro é que leu essa maneira de se lembrar das coisas ao contrário?
Publicado na ECOS da Fraternidade Rosacruz- Sede Central do Brasil – Set-Out, 2002

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