02/11/2014

A Natureza da Oração

 Do livro: A Teia do destino, Max Heindel(*)
O assunto da Oração deve merecer toda a atenção e estudo de todo aquele que aspira à espiritualidade, e confiamos que os conselhos que se seguem possam ajudar aos nossos estudantes em seus esforços neste sentido. Existe uma só força no Universo e esta é o Poder de Deus, que Ele enviou por todo o espaço em forma de Verbo; não uma simples palavra, senão o Fiat Criador, cuja vibração sonora amalgamou a multidão de átomos do caos numa infinidade de figuras e de formas que estão compreendidas entre a estrela do mar e estrela do firmamento e entre o micróbio e o homem, isto é, entre tudo o que constitui e povoa o Universo. À medida que as sílabas e os sons da Palavra criadora foram-se emitindo, uma após outra, no transcurso dos tempos, as diferentes espécies, também, e as mais antigas desenvolvendo-se, tudo de acordo com a harmonia do pensa­mento e do plano concebido pela Mente Divina, antes que a força dinâmica da energia criadora fosse enviada ao espaço.

Este é, pois, o único manancial de força no qual real e verdadeiramente, vivemos, nos movemos e temos o nosso ser, da mesma forma que os peixes na água. Do mesmo modo que o peixe não pode viver nem nadar em terra seca, tampouco nós podemos escapar ou iludir a Deus. Não foi inspirado em mero sentimento poético que o salmista disse; "Para onde irei eu que não esteja diante de Teu espírito, ou onde me esconderei de Tua presença? Se subo aos céus Tu estás lá; se faço minha cama numa caverna, Tu estás ali a fitar-me. Se tomasse as asas da aurora e morasse nas mais distantes regiões do mar, ainda ali Tua mão me guiaria e Tua destra me sustentaria".

Deus é Luz, e nem o mais potente telescópio que pode abarcar milhões de quilômetros no espaço, terá encontrado os limites da luz, porém nós sabemos que se não tivéssemos olhos por meio dos quais percebemos a luz, e ouvidos que registram as vibrações do som, caminharíamos pela terra em eterna obscuridade e silêncio; assim, pois, para perceber a Luz Divina, que só pode iluminar nossa obscuridade espiritual e ouvir a voz do silêncio, que é a única voz que poderá guiar-nos, devemos cultivar nossos olhos e ouvidos espirituais; e a oração, a verdadeira oração científica, é um dos méto­dos mais poderosos e eficazes para encontrar graça diante de nosso Pai, e receber a imersão da luz espiritual, que transforma alquimicamente o pecador em santo e o envolve com o dourado véu nupcial, o luminoso Corpo-Alma. Porém não nos enganemos.

A oração por si só não pode efetuar essa transformação. A menos que nossa vida inteira, tanto despertos como em sono, seja uma oração constante para a iluminação e a santificação, nossas preces jamais alcançarão a Divina Presença para trazerem o batismo do Seu Poder. "Ora e trabalha", a Deus rogando e com o martelo batendo, é um mandamento oculto a que todos os aspirantes devem obedecer sob pena de jamais conquistar grandes progressos. Neste sentido, uma antiga lenda de São Francisco de Assis confirmará o que dissemos; ela reflete a luz desse grande Ser cuja vida foi inteiramente consagrada ao serviço de Deus. Ei-la:

Um dia São Francisco convidou um jovem monge, dizendo-lhe: "Vem Irmão, vamos à cidade pregar ao povo". O jovem monge logo aceitou com alegria, satisfeito com a perspectiva de um passeio com o bem-aventurado padre, pois conhecia o manancial espiritual que ele representava. Assim, pois, dirigiram-se à cidade, passando por várias ruas e praças, absorvidos todo o tempo numa interessante conversação espiritual. Final­mente encaminharam seus passos de regresso ao mos­teiro. Então, subitamente, o leigo percebeu que haviam estado tão profundamente concentrados em sua conversação que haviam esquecido completamente o objetive de sua ida à povoação. Delicadamente observou a São Francisco a omissão, ao que o santo lhe respondeu: "Meu filho, enquanto estávamos passeando pelas ruas da cidade, as pessoas nos observavam, ouvindo trechos de nossa conversa e constatando que falávamos do Amor de Deus e de Seu Filho querido, nosso Salvador. Notaram nossas carinhosas expressões e as palavras de amor e de consolo aos aflitos que encontrávamos, e até a nossa atitude falava-lhes de religião. Assim, pois, Irmão, estivemos pregando durante todo o tempo de nossa presença entre eles, de um modo mais efetivo, espontânea e simples do que se lhes tivéssemos falado horas e horas em praça pública". São Francisco não tinha outro pensamento senão Deus; fazer o bem em Seu nome e, portanto, estava em grande harmonia com a vibração divina. Não nos deve assombrar, pois, quando ele orava constituía-se num poderoso magneto, pela Vida e Luz divinas que compenetravam todo o seu ser.

Nós que estamos empenhados no trabalho do mundo, forçados a fazer coisas que nos parecem sórdidas ou vulgares, pensamos muitas vezes que estamos afastados e impedidos de sentir a luz divina. Porém, se "fizermos todas as coisas como se fossem para o Senhor" e "formos fiéis nas coisas pequenas", veremos que, com o tempo, apresentar-se-ão ante nós oportunidades tais como jamais havíamos sonhado. Assim como a agulha magnética momentaneamente afastada do Norte por uma pressão externa, volta instantânea e ansiosamente à sua posição natural no momento em que se liberta da pressão, assim nós devemos cultivar tal anelo por nosso Pai, que fará com que nossos pensamentos se voltem imediatamente para Ele, quando tivermos terminado nosso trabalho cotidiano no mundo e ficarmos em liberdade de agir segundo nosso próprio impulso. Devemos cultivar um sentimento igual ao que anima os jovens enamorados quando, depois de uma ausência, voltam a encontrar-se e correm a se abraçar extasiados e saudosos. Esta é uma preparação para a oração absolutamente essencial, e, se voarmos em direção a nosso Pai da maneira indicada, a Luz de Sua presença e a doçura de Sua voz nos ensinará e nos acariciará além de nossas mais ardentes esperanças.

Primeira parte de: A Oração É Uma Invocação Mágica do livro A Teia do Destino